segunda-feira, 2 de abril de 2012

A donna da bola

A Madonna o que é de Madonna. Da doidona Britney Spears à doidinha Lady Gaga, sucessivas cantoras têm reclamado seu trono - e não deixa de ser verdade que, hoje, Rihanna ou Katy Perry vendem mais discos do que ela. Não importa: sempre que sobe ao palco, Madonna, rematada dominatrix, espanca as pretensões infantis das concorrentes. Na semana passada, em Indianápolis, ela fez o show do intervalo do Super Bowl, grande final do campeonato dessa luta de gladiadores conhecida como futebol americano. Da concepção ao figurino, foi uma apresentação com aquela costura impecável de elementos díspares que só Madonna sabe fazer: as bandas de fanfarra e as cheerleaders típicas do ensino secundário americano (onde os garotos fazem sua iniciação no esporte) combinaram à perfeição com o figurino Givenchy cheio de referências à Roma antiga. Madonna, como uma Cleópatra futurista, entrou em cena carregada por coadjuvantes trajados de centuriões - citação evidente de Cleópatra, a grande aventura histórico-kitsch estrelada por Elizabeth Taylor em 1963.
Durante pouco mais de doze minutos, Madonna dividiu o palco com malabaristas do Cirque du Soleil, dançarinos, uma banda de fanfarra e um coro gospel. Também cantou com convidados: a dupla LMFAO, o soulman Cee Lo Green e as rappers Nicki Minaj e M.I.A. (Essa última protagonizou o escândalo pueril da noite, mostrando um dedo médio para o público - atitude que não caiu bem com a anfitriã.) Mas os golpes comparáveis em intensidade às pancadas trocadas entre os jogadores do New York Giants e do New England Patriots - os times em disputa na final - foram todos desferidos pela própria Madonna, que enfileirou, de seu repertório inigualável, Vogue, Music, Open Your Heart e Like a Prayer, além de Give Me All Your Luvin¿, faixa de MDNA, o novo disco da cantora, que deverá chegar às lojas no mês que vem. O refrão da nova música, aliás, lembra perigosamente L.O.V.E. Banana, do produtor brasileiro João Brasil; ainda se discute se é um caso de plágio, semelhança casual ou, sabe-se lá, citação. O pocket show foi visto por 114 milhões de pessoas, 4 milhões a mais que na apresentação do Black Eyed Peas no Super Bowl de 2011 - e superior à média da própria partida, que ficou em 111,3 milhões de espectadores. Maior evento esportivo dos Estados Unidos, o Super Bowl é um espaço publicitário caríssimo: cada inserção comercial custa 3 milhões de dólares. O show do meio-tempo já esteve a cargo de artistas como Bruce Springsteen, Paul McCartney, U2 e The Who. Madonna, um ícone sexy, poderia ser uma escolha arriscada para um evento tão "família" (ainda mais depois do escândalo da exibição "acidental" do seio de Janet Jackson, no show de 2004). Mas ela soube adequar a mensagem ao público, sem perder a ousadia. A loura joga um bolão.

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