quarta-feira, 28 de março de 2012

Sucesso, finalmente

O Black Keys passou de promessa do rock alternativo
para o primeiro escalão do pop com El Camino - bom
exemplo de disco que muda a carreira de uma banda

Tocar no Madison Square Garden, em Nova York, pode marcar a ascensão de um artista ao topo da pirâmide hierárquica do pop e do rock. De Led Zeppelin a Lady Gaga, passando pelo Concerto para Bangladesh - superevento beneficente organizado por George Harrison em 1971 -, shows memoráveis tiveram lugar nesse ginásio de Nova York. Compreende-se, portanto, que o pai do cantor e guitarrista americano Dan Auerbach tenha se emocionado quando o filho contou a ele por telefone que sua banda, The Black Keys, iria tocar no Madison Square Garden - e não mais na condição de número de abertura, como já fizera num show do Pearl Jam, mas como atração principal. "Meu pai ficou mudo", disse Auerbach em entrevista a VEJA. Duo formado por Auerbach e pelo baterista Patrick Carney, o Black Keys sobe ao palco do lendário endereço nova-iorquino em março, mas já pode contar o show como um sucesso: os ingressos se esgotaram em quinze minutos; abriu-se uma segunda data, cujos bilhetes foram vendidos em um dia e meio, e estuda-se uma terceira apresentação. Um dos responsáveis pelo crescimento da popularidade do Black Keys é El Camino, que chegou às lojas no início de dezembro, vendeu 206 000 unidades só na primeira semana e rendeu à dupla a segunda posição na parada americana. "Já estava na hora de fazermos sucesso. Temos uma década de atividade", diz Auerbach.
A transição de uma banda que vive nos estratos médios do pop para o primeiro escalão é, em geral, resultado de anos de aperfeiçoamento no palco e no estúdio. Também depende de boas negociações com gravadoras e da consequente ampliação da base de fãs. Mas há um elemento determinante que, por fim, propicia a ascensão social e artística: o "disco da virada", aquele trabalho que parece concentrar as melhores características de uma banda e ainda conta com um conjunto de singles competentes e radiofônicos. The Unforgettable Fire, de 1984, é um bom exemplo (veja outros no quadro ao lado): a crítica tratou o quinto álbum do U2 com certo desdém, mas canções como Pride eram grandes hinos para apresentações ao vivo - e com aquele disco o quarteto irlandês deu o passo definitivo para deixar a condição de underground e se tornar o convencional dinossauro que é hoje. Em alguns casos, o disco da virada não é aquele que tem as vendas mais expressivas: Document, que o R.E.M. lançou em 1987, ficou em torno de 1,5 milhão de cópias vendidas, mas impulsionou sucessos como The One I Love e despertou a atenção da Warner - gravadora pela qual o R.E.M. lançaria, quatro anos depois, Out of Time, que bateu a marca de 17 milhões de discos vendidos no mundo.
O Black Keys já teve um CD bem-sucedido, Brothers, de 2010, com 875 000 unidades vendidas. Brothers con­solidou a parceria da dupla com o produtor Danger Mouse, que trabalha com artistas de sucesso como Gorillaz e Gnarls Bark­ley. O duo também passou do rock de garagem e do blues sujo dos primeiros discos para uma sonoridade mais polida e - por que não dizer? - acessível. "Mudamos porque queríamos experimentar outros estilos. A gravadora não teve um pingo de responsabilidade nessa decisão", garante Auerbach. El Camino, porém, expande bem mais a musicalidade da dupla: há faixas abertamente pop, como Stop Stop e Lonely Boy (com um clipe viral na internet), e uma canção com ecos de Led Zeppelin (Little Black Submarines). O próximo passo, segundo Auerbach, é tocar em todas as cidades que puderem acolher a dupla. "Tivemos convite para o Lollapalooza brasileiro, mas não conseguimos fechar uma data compatível", lamenta. A turnê, desta vez, será mais macia: "Depois de anos em hotéis de quinta categoria, vamos finalmente ter algum conforto". É a hora da virada.

O momento da virada

U2
The UNFORGETTABLE FIRE (1984)
É o quinto álbum do U2 e o primeiro a trazer a produção de Brian Eno e Daniel Lanois, que ajudaram a moldar a sonoridade do grupo irlandês. Embora tenha enfrentado críticas desfavoráveis, vendeu 3 milhões de cópias nos Estados Unidos e consagrou canções como Pride, que nunca mais saiu do set list dos shows do U2

NIRVANA
NEVERMIND (1991)
O segundo disco do trio americano Nirvana vendeu 30 milhões de cópias em todo o mundo, anunciou a chegada de um novo gênero - o grunge - e transformou Seattle na capital do rock. Produzido por Butch Vig, que poliu mas não domesticou a sonoridade áspera do trio, Nevermind fez do Nirvana um sucesso que seu líder, Kurt Cobain, não soube administrar: ele afundou no vício em heroína e se suicidou em 1994

ARCADE FIRE
THE SUBURBS (2010)
Embora tenha feito sucesso em seus dois lançamentos anteriores - Funeral e Neon Bible -, foi com este terceiro disco que o combo canadense passou para a primeira divisão das bandas de rock. Retrato entre ácido e nostálgico dos subúrbios americanos, The Suburbs ganhou o Grammy de melhor disco de 2010 e deu origem a um grande show no Madison Square Garden, em Nova York, com supervisão do diretor Terry Gilliam (ex-Monty Python) e transmissão mundial via YouTube

WHITE STRIPES
ELEPHANT (2003)
É o primeiro lançamento do duo formado por Jack White (guitarra e vocais) e Meg White (bateria minimalista) numa grande gravadora. Vendeu 2 milhões de unidades somente nos Estados Unidos e emplacou sucessos como Seven Nation Army - que virou até hino de torcida de futebol. O White Stripes já não existe, mas, graças a Elephant, Jack White é hoje um dos guitarristas mais cotados do rock e um produtor reputado

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