segunda-feira, 18 de junho de 2007

O mito do maestro

O crítico de música Norman Lebrecht, uma das poucas vozes dissonantes do oba-oba da música erudita, apregoa que o grande maestro não é aquele que rege as orquestras da moda ou lança discos por selos badalados. Bom regente é o que imprime sua marca sonora em cada grupo sinfônico que rege. Lebrecht citou como exemplo Lorin Maazel, que comandou a Sinfônica de Pittsburgh, a Ópera de Viena e atualmente responde pela direção da Filarmônica de Nova York. Sei bem do que Lebrecht está falando, porque cinco anos atrás vi Maazel reger de forma magistral a Orquestra Experimental de Repertório, grupo sinfônico formado por estudantes de música. No entanto, poucos regentes expressam melhor essa que o alemão Kurt Masur.
Masur, que completa 80 anos em julho, é um senhor carrancudo, de poucas palavras - principalmente quando importunado por repórteres - e não abre mão de chacoalhar a orquestra quando sente que ela não corresponde ao seu comando. Também não possui um gestual dos mais bonitos. Alto e um tanto desengonçado, ele parece um boneco de pau a se equilibrar no pódio enquanto rege a orquestra. Porém, sabe como poucos liderar uma orquestra. Seja a Filarmônica de Nova York, com quem veio ao Brasil em 2002 - e executou uma Quarta Sinfonia, de Bruckner, capaz de levar o ogro mais grosso às lágrimas; seja a Osesp, que foi regida por ele em 2002 e 2004 - o repertório foi de aberturas das óperas de Wagner às sinfonias de Beethoven e Brahms ou a Orquestra Acadêmica do Festival de Inverno de Campos de Jordão (Barber e Mahler), Masur atinge a alma de cada peça que rege.
No dia 30, de maio, Kurt Masur me proporcionou outros desses momentos mágicos. Ele comandou a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) no Teatro Alfa, em São Paulo. O repertório era constituído da abertura d'Os Mestres Cantores de Nuremberg, de Richard Wagner, a Sinfonia Inacabada, de Schubert, e a Sinfonia do Novo Mundo, de Dvorak. Masur regeu num andamento mais lento do que o normal, como se quisesse dizer para a platéia: "Caros, saboreiem cada nota desta maravilha!" E foi um banquete e tanto e um prenúncio de uma nova era para a OSB. Depois de sofrer durante anos na mão de regentes de quinta categoria e administrações catastróficas, ela renasceu no ano passado sob a direção do maestro Roberto Minczuk. Os concertos de Masur são a prova da capacidade do grupo sinfônico.
Abaixo, uma "palinha" de Masur e OSB na praia de Copabacana, Rio de Janeiro
http://www.youtube.com/watch?v=QcxVtIUWsso

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