segunda-feira, 9 de junho de 2008

Glad to Be gay

Confesso que não achei lá essas coisas a apresentação do cantor e compositor canadense Rufus Wainwright em São Paulo. Shows de voz e piano exigem um exímio instrumentista e um cantor acima da média - Wainwright não é uma coisa nem outra. Sim, é muito engraçado, faz piadas o tempo todo, o que nos faz lembrar os entertainers do showbiz americano. Mas depois de meia-hora, esse excesso de piadas dá sinais de cansaço. A entrevista, porém, foi uma das mais engraçadas eu que já fiz. Ei-la:

Veja – A cantora canadense Diana Krall declarou recentemente que o senhor é um dos últimos bastiões da música popular americana. O que o senhor acha dessa responsabilidade?
Em primeiro lugar, Diana Krall é uma fofa. Amei o que ela disse. Creio que a minha missão é recuperar a qualidade da música americana, que nas últimas décadas andava muito estagnada. Sou um compositor moderno, mas as minhas inspirações datam do final do século passando, quando artistas como Cole Porter e Irving Berlin davam as cartas no cenário musical.

Veja – No final do ano passado, o senhor lançou um disco em que recriou uma apresentação da cantora Judy Garland de 1956. O álbum faz parte dessa tentativa de recuperar a música americana?
Sempre fui fã de Judy Garland. Nos meus melhores dias, sonhava em ser a Dorothy de O Mágico de Oz. Nos piores, queria mesmo ser a Bruxa Má do Oeste. O que me encanta naquele disco, além do repertório é que Judy estava completamente drogada quando gravou o disco – ou seja, é um milagre que tenha saído tão bom.

Veja – Na época houve boatos que Liza Minelli, filha de Judy, participaria da apresentação – o que acabou não acontecendo? Por que ela desistiu?
Liza Minelli é bastante sensível a tudo que envolve a mãe. Mesmo porque existia uma competição entre elas. Liza soube do projeto, ficou horrorizada e evitou qualquer contato comigo. O que foi ótimo, sabia? Vai que ela topasse participar, desse um piti e saísse no meio da apresentação...

Veja – Em suas apresentações, o senhor costuma encarnar como poucos a figura do entertainer – canta, toca, dança, conversa com o público. Concorda que é uma arte que anda em falta no cenário pop?
Sim, claro. Mas veja bem, meu querido, venho de uma família de músicos. Minhas refeições, roupas, meu estilo de vida, dependiam do que eles conseguiam trazer para casa. Posso afirmar que as apresentações deles valiam cada centavo gasto pelo público. As minhas também, apesar de cometer alguns erros de vez em quando. Mesmo assim, o público me adora. Talvez o erro me torne mais humano...

Veja – O senhor preparou algo especial para as suas apresentações no Brasil?
Desde que eu disse “sim” para o Brasil, tenho feito um curso sobre o país. Conversei com Bebel Gilberto e Paula Lavigne, duas grandes amigas minhas, e tenho estudado música brasileira. Mas nada irá se comparar com a emoção de ver os brasileiros ao vivo e em cores. Vocês são tão bonitos, tão gentis... tão perigosos!

Veja – Tudo bem, mas o senhor poderia dizer algo sobre o repertório?
Vou tocar piano e serei acompanhado pela minha irmã, a cantora e compositora Martha Wainwright, e minha mãe, a cantora Kate McGarrigle. O repertório será baseado nos meus discos, releituras, e algumas coisas do meu próximo CD, que será gravado na base de piano e voz. Seria algo como Rufus Wainwright nu e cru. Pensando bem, acho que irei tocar sem roupa!

Veja – O senhor já declarou que sente inveja do talento de sua irmã, Martha Wainwright. Por que então está trazendo ela ao Brasil?
Porque ela é muito talentosa! Dentro de mim, existe um ser mesquinho e egomaníaco, que tem inveja do que ela escreve, do talento dela como cantora... Por outro lado, dentro de mim existe um ser generoso que torce pela irmã. Foi minha personalidade boazinha que a convidou.

Veja – Como anda o seu projeto de escrever uma ópera?
Está a todo vapor. Ela irá se chamar Prima Donna e irá contar um dia na vida de uma diva do canto. Mas não, querido, eu não irei interpretar a prima dona. Penso em cantoras mais experientes, como a finlandesa Karita Matilla e a americana Deborah Voight. Estou cuidando de tudo – da partitura ao libreto.

Veja – O senhor está mostrando uma empolgação incomum com o povo brasileiro. Por acaso irá trazer o seu namorado?
Ele não virá. Graças a Deus! Mas que maldade, eu sou um menino bonzinho e apaixonado. E prometi me comportar.

Nenhum comentário: