sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A lenda do roqueiro louco

No dia 31 de dezembro de 1981, o músico Arnaldo Baptista jogou-se de uma janela do hospital psiquiá-trico onde fora internado para tratar de problemas decorrentes do uso de alucinógenos. Feriu-se gravemente - chegou até a perder massa encefálica -, mas sobreviveu. Recuperado, isolou-se com a mulher em uma fazenda em Juiz de Fora, Minas Gerais, e converteu-se em pintor diletante. Só em 2004, depois de mais de vinte anos afastado dos estúdios, lançou o disco Let It Bed. Dois anos depois, juntou-se ao irmão guitarrista Sérgio Dias e ao baterista Dinho Leme para ressuscitar a banda que, no fim dos anos 60, o tornou uma figura legendária no rock brasileiro: os Mutantes (a cantora Rita Lee, que integrou a formação original do grupo, foi substituída por Zélia Duncan). Os shows da banda na Inglaterra, nos Estados Unidos e no Brasil contribuíram para alimentar o culto aos Mutantes - e em particular a Arnaldo, considerado o motor criativo da banda. Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, o documentário Loki - Arnaldo Baptista (Brasil, 2009), que estreia nesta sexta-feira, reforça esse culto, mas também traça um belo retrato do roqueiro paulistano. Hoje com 60 anos, Arnaldo nasceu numa família de músicos - seu pai era cantor lírico e a mãe, pianista. Ao lado do irmão Sérgio e da primeira namorada (mais tarde primeira mulher), Rita Lee, criou os Mutantes em 1966. O trio promoveu uma mistura original de rock psicodélico e música brasileira, mas Rita Lee deixou o grupo (e o casamento) em 1972. O rompimento parece ter sido traumático para Arnaldo. Abalou seu estado mental, já conturbado pelo consumo de LSD. Em um dos depoimentos do filme, o artista plástico Antonio Peticov, amigo e empresário dos Mutantes, conta que certa vez Arnaldo o convidou para ser o capitão da nave espacial que estaria construindo. O documentário perde ímpeto quando mostra os shows dos Mutantes em 2006. Mas, antes disso, Loki traz maravilhosas cenas de arquivo, com entrevistas e shows dos Mutantes originais e cenas raras da Patrulha do Espaço, banda que Arnaldo montou nos anos 70. O filme investe na lenda de Arnaldo como "louco genial" - mas o que se vê de fato na tela é um músico talentoso, prejudicado pela loucura quimicamente induzida.

Nenhum comentário: