sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O show não pode parar

Desde sua morte, no último dia 25, o cantor Michael Jackson recobrou rapidamente a condição de ídolo. Fãs de todo o mundo buscam seus discos com avidez e o celebram como grande artista. Em meio às homenagens, a família destoa. A figura mais deplorável é o pai de Michael, Joseph Jackson. Ele tem dito que o filho ficaria "orgulhoso" com a comoção dos fãs - comoção que ele próprio, todo sorrisos nas aparições públicas, é incapaz de demonstrar. Joseph anunciou a criação de uma gravadora, a Ranch Records, pela qual lançará novos nomes da música negra. Resta saber quem gostaria de gravar com o carrasco que, nos anos 60 e 70, conduzia os ensaios dos filhos - a banda Jackson Five - com o cinto na mão. Compungida em público, a mãe do cantor, Katherine Jackson, parece ser bastante pragmática em privado. Um dia depois da morte de Jackson, ela teria ligado para a ex-babá dos filhos do cantor, Grace Rwaramba, perguntando onde o filho "escondia dinheiro". E assim, com a colaboração decisiva de amigos e parentes - e da imprensa sensacionalista -, o lado perturbado e perturbador da vida do cantor de Thriller continua em pauta. Na semana passada, veio à tona que Michael Jackson deixou um testamento, redigido em 2002. O documento aponta a mãe do cantor como guardiã de seus três filhos, Prince Michael e Paris Katherine, nascidos da união com a enfermeira Debbie Rowe, e Prince Michael II, cuja mãe nunca teve a identidade revelada. No caso de Katherine morrer, a responsabilidade será entregue à cantora Diana Ross, amiga íntima do cantor. Debbie Rowe, porém, vem ameaçando lutar pela guarda de seus dois filhos (seu advogado disse à imprensa que ela ainda não decidira que ação tomar). Essa devotada senhora já declarou que Michael não era pai biológico das crianças. Suspeita-se que ela tampouco seja a mãe de fato - teria apenas servido de barriga de aluguel. A origem dos filhos é o tópico que mais tem provocado especulações bizarras (se bem que, em se tratando de Michael Jackson, a teoria maluca às vezes é a mais plausível). Alguns tabloides afirmaram que o dermatologista Arnold Klein, suspeito de fornecer medicamentos perigosos a Michael, é o verdadeiro pai. Mesmo que não peça a guarda dos filhos, Debbie Rowe deve contestar outro ponto do testamento: a divisão dos bens, na qual ela não está contemplada. A partilha está estabelecida nos seguintes termos: a mãe do cantor fica com 40%; outros 40% vão para os filhos, e os 20% restantes são doados a instituições de caridade. Michael, como se vê, excluiu o pai tirano do testamento - mas preservou a mãe, a quem sempre foi mais ligado, talvez até pelo sofrimento: ela também apanhava de Joseph. Estimativas apontam que Michael teria acumulado uma dívida de 500 milhões de dólares, enquanto seus bens somariam 567 milhões. A maior fonte de renda do cantor são os royalties das vendas de seus discos e os direitos sobre 251 canções dos Beatles, cujos lucros são divididos com a editora Sony/ATV. Suspeita-se, porém, que Michael tenha dado os direitos das canções como garantia para abater suas dívidas, o que comprometeria parte da herança. É certo que Katherine e os netos não ficarão desprovidos: os discos de Michael, afinal, voltaram às paradas, e centenas de milhares de cópias estão sendo vendidas por semana. O resultado da autópsia do cantor só será conhecido em cerca de um mês. É bem provável que o uso indiscriminado de remédios tenha precipitado a parada cardíaca que possivelmente o matou. Na sexta-feira passada, o site de fofocas TMZ (veja o quadro), que tem mantido a dianteira na revelação de fatos sobre o cantor, anunciava que Michael era viciado em anestésicos. De acordo com o site, ele corria às clínicas de cirurgia cosmética de Los Angeles para ganhar injeções de Botox e colágeno - e exigia anestesia, embora esta não seja necessária nesses procedimentos. A lista de medicamentos supostamente tomados pelo artista todos os dias (veja o quadro) é impressionante. Uma ex-enfermeira de Michael, Cherilyn Lee, declarou que, cinco dias antes de sua morte, o cantor implorou a ela, chorando, que lhe aplicasse uma injeção de Diprivan, anestésico forte usado em cirurgias. Nas buscas que fez na casa de Michael Jackson, a polícia de Los Angeles encontrou Diprivan e lidocaína - e o DEA (departamento antidrogas) foi convocado para tratar do caso. Com tantas revelações escabrosas, o caviloso cardiologista Conrad Murray - que andou sumido nos primeiros dias depois da morte de seu paciente célebre - não é mais o centro das atenções dos tabloides. Havia suspeitas de que Murray teria dado uma injeção de demerol em Michael, provocando o ataque cardíaco. Ele negou tudo em depoimento à polícia. A dependência de Michael em relação a remédios seria tão acentuada que até a AEG, a agência que promoveria, nos próximos meses, cinquenta shows dele em Londres, teria contratado um seguro contra overdose. Ou, pelo menos, é o que um porta-voz da empresa disse: uma fonte da seguradora colocou em dúvida essa informação. Os fatos em torno de Michael Jackson parecem esfumaçados ou exagerados. A AEG, pelo menos, providenciou um momento de clareza na semana passada: divulgou um trecho, em vídeo, dos ensaios para os shows. Dois dias antes de morrer, lá está Michael Jackson, dançando e cantando - "impecável", segundo os produtores da AEG, que devem lançar um CD e um DVD neste ano. O ginásio Staples Center, local dos ensaios, em Los Angeles, deverá abrigar o último encontro do astro com as multidões: 11 000 bilhetes serão distribuídos para que os fãs assistam a uma homenagem póstuma, na terça-feira (não se confirmou se o corpo estará lá). Até sexta-feira passada, a família ainda não decidira onde Michael Jackson seria enterrado (parece certo que não será em Neverland, como ele queria). Não se sabe, portanto, onde ele vai finalmente descansar.

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